Papo com pesquisadores 001 - Da academia à indústria
- Integração Academia-Indústria

- 5 de abr. de 2021
- 4 min de leitura
Desafios e inseguranças de quem já passou pelo processo.

Com muita satisfação, iniciamos uma sequência de entrevistas com profissionais que realizaram a transição da academia para o mercado de trabalho. Através delas, você conseguirá conhecer um pouco mais sobre o processo pessoal de adaptação de cada um e entender um pouco mais sobre como estes profissionais se prepararam e lidaram com os altos e baixos na busca por uma oportunidade.
Nosso primeiro convidado é André Luiz Amorim, doutor em química e atual pesquisador de P&D na WEG de Guaramirim. Possui experiências em diferentes áreas de atuação, como: compostos organometálicos, fotocatálise e química computacional. Como profissional possui um perfil dedicado, com ideias inovadoras e bom relacionamento interpessoal.
Inicialmente formou-se em Engenharia Química na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mas eventualmente identificou-se com a química e ingressou no Programa de Pós-Graduação em Química da UFSC. Durante este período, trabalhou com a síntese de compostos organometálicos com foco na liberação fotoativada de sinalizadores químicos gasosos (como monóxido de carbono) e sua aplicação como fármacos. Além disso, utilizou seus conhecimentos para investigar (otimizar) os compostos sintetizados através de métodos computacionais. Conversamos com o André sobre os desafios encontrados por ele na busca por recolocação após o doutorado e sem experiência dentro da indústria. Confira abaixo!
Integração Academia-Indústria: Atualmente qual é a sua área de atuação? Você utiliza conhecimentos da sua pesquisa de pós-graduação no seu trabalho atual?
André: Minha área envolve pesquisa e testes de métodos e técnicas para acelerar o processo de desenvolvimento. Sim, consigo aplicar conhecimentos da pós-graduação, atualmente focam principalmente na resolução de problemas e criação de métodos analíticos que atendam as demandas.
Integração Academia-Indústria: Antes de conquistar a vaga atual, você já possuía experiência anterior em uma empresa/indústria? Você acredita que isso pode influenciar na seleção para uma vaga?
André: Não, mas acredito que dependa muito do gestor e das demandas atuais da empresa.
Integração Academia-Indústria: Quais habilidades/conhecimentos acadêmicos você acha que foram fundamentais para atingir um bom desempenho na indústria?
André: Em termos de hard skill para a minha função atual, considero que um bom conhecimento das técnicas de caracterização seja essencial (infelizmente muitas das quais não temos contato pleno na universidade). A operação do equipamento, apesar de importante, para a minha função atual é menos importante. Do meu ponto de vista, a operação de equipamentos pode ser aprendida com mais facilidade se há conhecimento dos fenômenos. Já em termos de soft skill, considero que a comunicação assertiva seja essencial. Adiciono o termo assertivo pois é necessário que haja entendimento do público alvo. Afinal, de nada adianta comunicar o desenrolar de um projeto se os termos empregados e resultados obtidos não atingem o público alvo.
Integração Academia-Indústria: Quais habilidades importantes para a sua área você ainda precisa aprimorar/desenvolver? André: Eu acho que sempre é preciso aprimorar. O conhecimento, técnicas e necessidades estão sempre em constante mutação. Mas considero essencial aprimorar técnicas de comunicação. Integração Academia-Indústria: Como foi o processo de adaptação pessoal para a atuação no meio corporativo?
André: Foi tranquilo. Obviamente o trabalho em empresa tem algumas especificidades, como prazos e maior interdependência dos setores. Mas nada que, ao meu ver, já não haja na pós-graduação em áreas STEM (Science, Technology, Engineering, Math), que é onde tenho propriedade de fala. Integração Academia-Indústria: Como foi o preparo para inserção no mercado de trabalho? Você teve que se especializar ou buscar consultorias?
André: Não realizei um preparo específico para essa mudança, mas também não foi da noite para o dia. O primeiro passo foi expandir as minhas possibilidades para além da academia, criando um currículo tanto em português quanto em inglês, criando uma conta no LinkedIn e retomando e estabelecendo contato com pessoas fora da minha bolha social.
Integração Academia-Indústria: Qual foi a maior dificuldade encontrada nesse processo de sair do doutorado até ser selecionado para a vaga? André: Encontrar a primeira oportunidade. Infelizmente ainda há muito estigma em relação à pós-graduação e empresas. Em grande parte, associo isto com a impossibilidade em mostrar os conhecimentos que são adquiridos em soluções práticas reais, onde a pós-graduação incita o indivíduo a assumir o papel de professor universitário, mesmo sabendo que um percentual muito pequeno de doutores assume essa função.
Integração Academia-Indústria: Você acredita que a titulação tenha sido um impeditivo na busca por recolocação?
André: Sim, hoje o mercado não absorve este tipo de profissional, principalmente se não há experiência em outros setores. Mesmo em outros países, onde há maiores investimentos em pesquisa, buscar a titulação de doutor diminui a empregabilidade inicialmente, mesmo que com o tempo os rendimentos possam ser maiores.
Integração Academia-Indústria: Durante a busca por oportunidade, você já se sentiu inseguro em relação a sua capacidade de realizar as atividades necessárias do cargo?
André: Creio que qualquer nova atividade provoque essa sensação. Enfrentar o desconhecimento sempre pode ser um problema, mas assim que entendi o funcionamento, prazos e o que é esperado da minha função, então não tive mais problemas.
Integração Academia-Indústria: Se você se sente/sentia inseguro, que posicionamento ajuda/ajudou a superar esse bloqueio?
André: Dialogar sempre é a melhor opção, seja com os outros colaboradores, seja com o superior direto. Entender a sua função na empresa e qual tipo de posicionamento você precisa ter é essencial.
Integração Academia-Indústria: Finalizando, teria alguma dica ou conselho para quem está passando por essa transição? André: Como primeiro emprego hoje, destaco que construir relacionamentos com pessoas fora da bolha social é o mais eficaz. Pelo bem ou pelo mal, networking e indicações são uma das melhores formas de fazer com que empresas notem um candidato sem experiência fora da academia. Lembra daquele pessoal que trabalhava como vendedor e técnico de operação da fornecedora X? Então... possivelmente ele já passou por isso. Muitas vezes nos congressos nós ignoramos esses profissionais e focamos apenas no professor com o maior número de publicações.
Esse é apenas um exemplo das centenas de profissionais que conseguiram realizar a transição do meio acadêmico para o meio corporativo, e esperamos trazer mais histórias de sucesso para inspirar e motivar todos aqueles que estão nessa busca. Essa série quer mostrar a vocês que é possível sim fazer a transição de forma muito bem sucedida, como foi o caso do André! Esperamos que, de alguma forma, a história de vida e carreira dos profissionais que aparecerão nesse série de postagens possa ser um conforto e uma luz no fim do túnel: a hora de cada um vai chegar.
Agradecemos de coração toda a disposição do André Amorim em nos contar sua trajetória até o tão sonhado sim e desejamos muito sucesso na caminhada profissional!
“The human species thinks in metaphors and learns through stories.”
Mary Catherine Bateson





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