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Argilas em Cosméticos – as “queridinhas” da beleza sustentável

  • Foto do escritor: Integração Academia-Indústria
    Integração Academia-Indústria
  • 14 de abr. de 2021
  • 6 min de leitura

Nossa pele está constantemente sendo agredida, seja pela poluição das ruas, maresia, células mortas que não são periodicamente removidas, resquícios de maquiagem e outros produtos de beleza e higiene que ficam em nossa pele/poros ou exposição ao sol, muitas vezes sem a devida proteção do filtro solar. Muitas vezes a soma desses fatores contribui para que nossa pele adquira certas características ou acentue as já existentes: ressecamento, oleosidade excessiva, manchas, opacidade, entupimento dos poros, dentre outros problemas que certamente dão dor de cabeça a muitas pessoas.


Cada vez mais, o chamado para o uso de processos e produtos ambientalmente amigáveis vem ganhando força e isso reflete diretamente nos produtos que compramos e consumimos hoje. Com certeza todos nós já estamos familiarizados com o termo vegano e cruelty free. Ambos estão intimamente relacionados à classe dos produtos cosméticos veganos, uma tendência promissora no universo da beleza. Em um mundo onde as preocupações com a natureza e sustentabilidade são crescentes – e somado com a conscientização e incentivo de grandes empresas para abolir os testes de cosméticos em animais – os consumidores também estão procurando por alternativas sustentáveis e naturais, mas que ainda tragam os mesmo benefícios e resultados (ou até mais) que os cosméticos tradicionais. Estima-se que a produção de cosméticos naturais e veganos aumentarão em até 5.6% ao ano até 2027.

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Fonte: Data Bridge Market Research, Global Vegan Cosmetics Market.

As argilas foram, e ainda são, uma grande aliada do skincare devido ao equilíbrio que dão à pele. Suas propriedades físicas como tamanho da partícula, forma, área superficial, textura, cor, brilho e propriedades químicas relacionadas aos metais presentes são os principais motivos do seu uso em produtos cosméticos. Como ingrediente ativo, as argilas adsorvem substâncias indesejadas na pele como óleos e resíduos gerados pelas glândulas sebáceas, toxinas, graxas e odores gerados pela pele ou pela microbiota natural da pele.


Por conta disso, são excelentes antipoluentes e possuem diversos benefícios, como remoção de células mortas por esfoliação, absorção de impurezas e toxinas, ajuda a reconstituir tecidos e agiliza processos de cicatrização, elimina a oleosidade e clareia a pele. A soma desses benefícios com a origem natural desse produto, oriunda de rochas vulcânicas, as tornam excelentes ingredientes para produtos cosméticos naturais e veganos. Existem diferentes tipos de argilas, e cada uma traz um pacote de benefícios únicos para os diferentes tipos de pele:


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Argila Verde:

Uma das mais comuns, pertence à classe das montmorilonitas (silicato de alumínio). Possui uma diversidade de cátions metálicos em sua composição, que podem ser trocados, dando diferentes propriedades a esse mineral. É o mais indicado para peles oleosas e acneicas. É um ótimo absorvente, adstringente, secativo e bactericida, controlando acnes e produção sebácea.


Argila Branca:

Composta de alumínio, sílica e caulinita, tem o pH mais próximo da pele e, por causa disso, é considerada a argila mais suave. Recomendada para peles mais sensíveis, envelhecidas e desidratadas, pois além do alto poder hidratante, possui efeito clareador, ação cicatrizante e suavizante. Os metais manganês e magnésio também estão presentes na composição, conferindo ação anti-inflamatória e podendo ser aplicada em peles acneicas.


Argila Preta:

Chamada também de lama vulcânica, é a mais indicada para desintoxicar a pele, com alto teor de alumínio e silício em sua composição. É a argila mais nobre e muito utilizada principalmente em peles normais e oleosas e acneicas. Também possui ação anti-inflamatória, ajuda a tratar manchas e linhas de expressão, além de ser ótimo antioxidante e melhorar a circulação sanguínea!


Argila Cinza:

É rica em titânio, silício e alumínio e tem o pH mais alcalino. Possui propriedades anti-inflamatórias e, graças ao titânio presente, ajuda a tratar cravos e espinhas e controlar a oleosidade (p.s. filtro solar para pele oleosa usa sais de titânio!). Portanto, é indicada para peles oleosas/acneicas e manchadas. É um antioxidante natural, retardando o envelhecimento da pele.


Argila Vermelha:

Para peles extremamente sensíveis. Além da sílica, o óxido de ferro predomina na composição dessa argila. Tem ação hidratante, suaviza e relaxa, além de auxiliar na textura e elasticidade da pele. Por ativar a circulação sanguínea, essa argila pode também ser utilizada no corpo para ajudar na redução de celulites.


Argila Rosa:

Hoje, muito se fala da argila rosa e seus benefícios. Ela nada mais é do que uma mistura das argilas branca e vermelha, unindo as propriedades de ambas. Assim, pode ser usada em peles sensíveis e delicadas, hidratando e suavizando a irritação, e também em peles acneicas com vasinhos e rosáceas.


O uso de argilas na rotina de skincare vai além dos benefícios visuais e sensoriais que elas proporcionam logo após a aplicação. Estudos mostram que algumas argilas têm propriedades antimicrobianas, e que alguns metais presentes nessas argilas minerais, como cobre e zinco (especialmente zinco, que possui um amplo espectro de atividade), podem contribuir para essa atividade nesses produtos. Dessa forma, além do uso como cosmético clássico, as argilas podem também ser usadas como complemento em tratamento de inflamações da epiderme. Embora elas apresentem tais propriedades, o seu uso como conservante natural e vegano não é indicado, pois outros estudos adicionais de garantia de incompatibilidade e testes em outros micro-organismos precisam ser feitos.


Quais são as aplicações das argilas nos cosméticos?


O uso de argilas para fins terapêuticos e cosméticos é uma prática ancestral. Antigamente utilizava-se a propriedade anti-inflamatória das argilas para tratamento de feridas e inibição de hemorragias. Quando falamos em argilas na área de cosméticos, logo pensamos nas máscaras faciais, uma prática presente na rotina de skincare da rainha Cleópatra no Egito (44 - 30 A. C.).


Contudo, o desenvolvimento de cosméticos com argilas como ingrediente expandiu-se muito além da tradicional máscara facial. Hoje em dia as encontramos em maquiagens, primer, filtro solar, lenços umedecidos, produtos para cabelo, shampoos secos, dermocosméticos, entre outros. As aplicações são infinitas, porque podem explorar diferentes aspectos vantajosos:


1. Propriedades Reológicas: estabilização de emulsões

Podem participar do desenvolvimento de produtos semi-sólidos, como cremes, pastas e géis. Os semi-sólidos correspondem a sistemas de dispersão com mais de uma fase (por exemplo, emulsões de óleo em água). As dispersões coloidais e emulsões são instáveis e tendem a se separar com o tempo, sendo necessário o controle reológico com a adição de um estabilizante. As argilas são capazes de favorecer a estabilização destes semi-sólidos através de sua interação com o solvente, resultado de dimensões e grandes áreas de superfície de suas partículas inorgânicas. Como exemplo, a bentonita é capaz de formar hidrogéis. As interações da fase coloidal (partículas de bentonita) imobilizam a fase líquida aquosa e aumentam a viscosidade do produto.


2. Benefícios para o rosto: antioleosidade, anti-aging, antioxidante, entre outros


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Fonte: Innisfree Volcanic Colour Clay Mask.

Como mencionado anteriormente, o uso de argilas para skincare é uma prática comum no mundo todo. Uma das tendências de beleza atuais é o multimasking, o qual diferentes máscaras faciais são combinadas para atender as necessidades específicas de cada região do rosto! Como exemplo, as regiões de nariz e testa (região T) possuem maior oleosidade do que nas bochechas, então por que não utilizar argilas diferentes para cada local? Neste caso, a argila verde poderia ser utilizada na região T e a argila branca nas bochechas. Tudo depende do seu tipo de pele, então você pode realizar experimentos para o que melhor se adequa ao seu perfil!


3. Variadas colorações: alternativa a pigmentos sintéticos


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Fonte: Adaptado de dissertação de Juliana da Silva Favero (UCS).

As variadas colorações proporcionadas pelas argilas são também um aspecto a ser explorado para desenvolver produtos com composições cada vez mais naturais. A coloração das argilas pode ser uma alternativa a pigmentos sintéticos que podem causar irritações em peles sensíveis. Além disso, a cor proporcionada pela argila pode ser aplicada no desenvolvimento de maquiagens.

Juliana da Silva Favero desenvolveu no mestrado em Engenharia de Processos (UCS/RS), o estudo da aplicação cosmética de argilas recolhidas no interior de São Paulo, provenientes de resíduos na extração de areia de mineradoras. O estudo detalhado investigou a composição das argilas e a viabilidade de aplicação, resultando em formulações em gel estáveis e não apresentando irritabilidade à pele!


4. Desenvolvimento de produtos em barra para cabelos


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Fonte: Floressencial, Shampoo em pastilha com argila verde.

O mercado de produtos capilares está sofrendo uma atualização! Além da maior preocupação dos consumidores em avaliar os ingredientes da formulação, um público cada vez maior de clientes está aderindo ao consumo de produtos em barra. O objetivo de migrar para o shampoo e/ou condicionador em barra é a questão sustentável para redução do uso de plásticos. Para tornar possível um shampoo e condicionador em barra é necessária a solidificação da formulação, e nesse caso a argila pode ser aplicada!

Além da propriedade física e reológica, a presença de argila em produtos capilares têm mostrado resultados promissores para controle de oleosidade, caspa e reconstrução da cutícula capilar (divulgado pela Terramater Active Minerals).



O mercado para as argilas é amplo! A abundância de matéria-prima, grande variedade territorial e leque de aplicações atuais permite um vasto crescimento comercial nas indústrias cosmética e farmacêutica. Para estes produtos, apesar de inúmeras vantagens e benefícios proporcionados pelas argilas, é importante avaliar a toxicidade e compatibilidade em formulações dermocosméticas e farmacêuticas, garantindo a segurança e satisfação do consumidor!


Referências:

Sirelkhatim, A. et. al. Review on Zinc Oxide Nanoparticles: Antibacterial Activity and Toxicity Mechanism. Nanomicro Lett. 2015, 7, 219.


de Souza, R. C. et. al. Antibacterial Activity of Zinc Oxide Nanoparticles Synthesized by Solochemical Process. Braz. J. Chem. Eng. 2019, 36, 885.


Bergaya, F.; Theng, B. K. G.; Lagaly, G. Developments in Clay Science: Handbook of Clay Science. 1ª ed, Oxford, Elsevier, 2006.


Viseras, C. et. al. Uses of clay minerals in semisolid health care and therapeutic products. Appl. Clay Sci. 2007, 36, 37.


Favero, J. S. Caracterização, Tratamento e Viabilidade de Aplicação de Argilas Provenientes de Resíduos de Extração de Areia na Área Cosmética. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Processos) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos e Tecnologias, Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, p. 32 e 68, 2017.


Ghadiri, M.; Chrzanowski, W.; Rohanizadeh, R. Biomedical applications of cationic clay minerals. RSC Adv. 2015, 5, 29467.

 
 
 

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